domingo, 22 de dezembro de 2013

Primeiros socorros

Estaremos viajando por aproximadamente 7 dias, somente os dois, passeando por praias, costeiras, remando, tomando sol, expostos à intempéries, mergulhando, comendo não tão bem, dormindo não tão melhor, enfim, enfrentando diversas situações não corriqueiras... A chance de acontecer algo, como uma escoriação, uma queda, um corte, picadas de insetos, espinho de pindá, indigestão, dores musculares, existe. E seria muito ruim ter que finalizar a viagem por um problemas desses!

Além de muita fé e otimismo, é importante estar preparado com um kit de primeiros socorros básico, para situações de emergência simples. Pensamos nos seguintes itens:

- Antitérmico;
- Analgésico;
- Dramim;
- Água oxigenada;
- Hipoglós;
- Gelol;
- Gaze;
- Esparadrapo;
- Agulha;
- Repelente;
- Protetor solar;
- Hipoclorito.

4 dias para a saída!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O último treino

Conforme já tinha exposto, devido a alguns problemas fiquei um bom tempo sem poder ir pra São Sebá pra remar. Porém, no dia 1º de dezembro consegui escapar no sábado, entre uma viagem e outra, e desci pra realizar o, talvez, último treino antes da travessia. Chegando em São Sebastião, eis que o sr. Donizete me vem com a surpresa:

A surpresa do Capitão

Ele havia feito quatro adesivos com o endereço do blog pra colar nos caiaques! Hehehe, boa sacada!

Levamos os coletes e sacos-estanque recém adquiridos para testá-los. O dia estava fechado, com garoas esparsas, mas o mar estava liso, de sul, com vento quase que nulo. Saímos de São Francisco, na frente do convento, e atravessamos o canal em linha praticamente reta, em direção ao Saco da Capela, próxima à Vila, na Ilhabela. Remamos 5,7 km em 1h34m, velocidade de 3,6 km/h (aproximadamente 1,5 nó). Sim, decepcionante.
Lá na praia encontramos o Daniel, um paulistano que possui uma casa em Caraguá e que estava curtindo um dia não muito de praia em Ilhabela. Se aproximou com curiosidade e perguntou se vínhamos do outro lado do canal. No final, revelou que tinha também um caiaque e que gostava de remar, e marcamos de dar umas voltas qualquer dia desses. Nos despedimos e voltamos à bordo.

No meio do canal.

A volta foi um pouco melhor, mas ainda bem ruim. Saímos do Saco da Capela em linha reta até o píer do Pontal da Cruz, em São Sebastião, e depois fomos margeando até o Bairro. Total de 6,4 km, em 1h35m, velocidade de 4 km/h (quase 2 nós).

Mar manso.

Apesar do desempenho bem decepcionante (e, na verdade, mal explicado), acredito que foi mais uma boa saída. Atravessamos o canal tranquilamente, com um pouco de chuva na volta, e, particularmente, me senti preparado para o que viemos planejando há alguns meses. Agora, acredito que a próxima vez que estes caiaques tocarem a água do mar vai ser pra dar a volta na Ilhabela! 

13 dias para a largada.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Novos itens adquiridos

Um dos itens mais importantes pra viagem, especialmente nos trechos mais longos onde não teremos locais de apoio para uma parada de emergência (ponta da Sepitiba e ponta do Boi), era o colete salva-vidas. Caso naufraguemos, pode ser que tenhamos que ficar um bom tempo na água, sem poder chegar perto da costeira, e, nessas horas, tudo que flutua é um oásis. Estes coletes de neoprene são homologados pela marinha, e, quando testados, saíra-se muito bem , com uma ressalva: aquecem demais! Isso porque testamos em um dia chuvoso...! Mas não atrapalham a remada e são bem compactos, fáceis de guardar.

Coletes e saquinhos estanque.

Os saquinhos estanque são da mesma marca destes outros, porém, bem menores, de 2 litros. Utilizamos para levar um lanche, e funcionaram excelentemente. Serão de boa serventia.

A fera equipada e pronta pra enfrentar o gigante mais uma vez.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Lidando com as marés

por Geraldo Nascimento


Vinte e seis de dezembro, dia previsto para a nossa saída, estaremos em lua minguante e no verão. Com isso aumenta a chance de termos vento de leste.
Sendo assim, sairemos pelo lado sul, que é a nossa saída preferida. Teremos que remar mais para atravessar o canal, porque estaremos com vento e corrente por bombordo. Pela manhã esses ventos são mais fracos e vão aumentando a medida que o sol vai subindo. Mas depois que atravessarmos o canal a situação deve melhorar, porque então teremos vento pela popa.
Não gostaria de ter que sair pelo lado norte, porque pegaremos de cara distâncias curtas, deixando as mais longas para o final, quando estaremos mais cansados e, possivelmente, ansiosos.
O movimento das mares não deverá influenciar muito.

São Sebastião, à direita, e Ilhabela. Não sei de quem é a foto para dar os créditos.

Encontrei hoje com meu amigo Rubens. Depois dos cumprimentos de costumes, tipo "faz tempo que não lhe vejo", "você sumiu", "nunca mais foi ao Bonete", passamos a conversar. Rubens é um dos caiçaras que eu mais respeito em termos de mar. Boneteiro muito experiente, trabalhamos juntos por muitos anos até minha aposentadoria. Depois de muita conversa, me perguntou quando iria aparecer em sua casa no Bonete. Então, lhe contei da aventura que estamos preparando e que nos veríamos em breve. Para quem não conhece Rubens, quando ele não sai da Vila por causa do mar ressacoso, é porque a coisa está realmente feia. Muitos o tem por louco; eu acho que ele tem é muita experiência de mar e sabe ler com olhar mais clínico o movimento das ondas, melhor que outros caiçaras. Eu confio muito nele. É quase um guru para mim. Então, quando lhe falei da aventura ele respondeu: -Tranquilo, é só ir devagar, passeando, você vai conseguir boas marés. Falei do meu receio para passar na Ponta do Boi. E ele: - É fácil, não chega muito perto da costeira mesmo com o mar calmo. Havia muita tranquilidade nos seus olhos. Foi um dos poucos que não me chamou de louco. Nos despedimos prometendo nos encontrar no Bonete. Até lá Rubens, meu amigo.


19 dias para a jornada.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Dificuldade à bombordo!

Descobri, durante esta semana, que terei duas viagens a trabalho que consumirão boa parte da minha vida até a nossa empreitada. Viajo já nesta segunda (18/11) e só volto dia 29/11. Na sequência viajo no dia 02/12 com previsão de volta para o dia 20/12. Ou seja, treinos no mar, nem pensar.
E ainda temos bastante coisa pra ajeitar, apesar de que, acredito, o básico e essencial já esteja providenciado... Vamos ver como nos saímos!

domingo, 10 de novembro de 2013

Manter seco

Durante a travessia, haverá um inconveniente: estaremos, durante grande parte do tempo, rodeados por água, por todos os lados, abaixo de nós e, algumas vezes, por cima. Bom, ao menos esperamos isso. Ao mesmo tempo, um outro inconveniente é nossa natureza humana, ou seja, teremos algumas necessidades básicas que deverão ser cumpridas caso queiramos terminar a empreitada, como água, comida, abrigo, vestimentas, fogo.
Toda nossa bagagem terá de ser mantida seca, ao menos a maior parte dela. Para isso, adquirimos dois sacos-estanque da Remar, como esse. Acreditamos que um saco de 50 L para cada um bastará pra armazenar tudo o que precisamos, como fogareiro, roupas, barraca, comida, e outras traquitanas. Testamos os sacos, que se saíram muito bem, inclusive quando dentro d'água e cheios de bagagem.

Também precisaremos de sacos menores, pra deixar à mão, pra levar algum lanche, por exemplo.

Um dos sacos-estanque adequadamente acomodado no bagageiro de um dos Pinguins.

46 dias para lançar-nos ao mar!

domingo, 3 de novembro de 2013

Boas novas!

No dia 02 de novembro realizamos a terceira saída-treino, e, a bem dizer, a melhor de todas até agora. É verdade que o mar não estava tão ruim (água de leste), e o vento estava a favor, porém, remamos, o Capitão e eu, desde o Bairro de São Francisco (saindo da frente do convento) até a ponta de lá do Guaecá (também conhecido como canto direito), totalizando 15,5 km. Fizemos o trajeto em 3h05m, o que dá uma velocidade média de 5,03 km/h. Fizemos uma parada maior no mangue do Araçá (o que me deu uma certa melancolia, de lembrar quantas vezes quando eu era criança eu passeei por aquele lugar, e de lembrar também que toda aquela área será aterrada em um futuro próximo pra dar lugar a um pátio de conteineres), e algumas menores em outros lugares. Na média, foi um ótimo desempenho.

O novo Pinguim, vermelho, pronto para o debute. 

Em casa tínhamos um remo antigo, resquício dos caiaques alugados há alguns muitos verões. Eu estava tendo algum problema com o remo que vieram com os caiaques, me pareciam muito curtos, a todo momento eu tinha que ajeitá-los nas mãos. Esse remo, afortunadamente, era mais comprido, uns 10 ou 15 centímetros. Resolvi utilizá-lo, e a diferença foi tremenda. Menos dores nos punhos após a remada, sensacional!

"É pra lá, ó:"

Estava um dia realmente bonito. O astro-rei, que reinava como se não houvesse amanhã, ajudou a ter uma ideia de como serão os dias de sol sobre os caiaques no verão dezembrino. A verdade é que o vento engana bem o calor, o que nos faz esquecer de beber água.

Píer do Arrastão, um dos primeiros pontos de águas revoltas. Muito vento. 

Passando por baixo do píer da Petrobrás. 

Já no Farol do Moleque, na Praia Grande (Balneário). Mar bem agitado neste ponto também.

Uma outra novidade é o novo caiaque. Troquei o Tubarão por um Pinguim Fishing, devido aos problemas de adaptação (dá zero pra ele) que tive. Realmente a diferença de estabilidade é muito grande, além do conforto, muito superior nesse caiaque. Contudo, realmente ele é mais lento, é necessário fazer mais força pra desenvolver velocidade. Porém, nada que estrague o passeio.

Ao fundo, Cabelo Gordo, Pitangueiras e CebiMar, da direita pra esquerda.

Na ilhota de Barequeçaba.

De um modo geral foi um teste muito bom. Ambos concordamos que daria pra remar por pelo menos mais uma hora, sem problemas. No dia seguinte, quase nenhuma dor no corpo (tanto que ainda fui dar umas remadas no Guaecá), e a certeza de que a preparação, se ainda não está 100%, está se encaminhando muito bem.

53 dias para zarpar.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Mudanças...

12 de outubro de 2013. Terceira saída-treino. E não poderíamos esperar treino melhor.
O mar estava entrando de leste, muito batido, água bem fria. Um vento também de leste, aproximadamente 20 nós. Nosso plano inicial era sair do Bairro, remar até o Guaecá e voltar, mas, vendo a condição do amr e do vento, o Capitão decidiu que seria melhor irmos contra o vento, para que na volta fizéssemos menos esforço. Saímos então, na direção norte, sentido Caraguá.
Bom, pra poupar palavras, basta dizer que desenvolvemos uma velocidade média de 2,6 km/h remando contra o vento. Péssimo desempenho, mas o vento estava realmente muito forte. Mas esse nem foi o maior problema. Eu consegui me equilibrar no Tubarão sobre as vagas, mas ao custo de muita energia. Mesmo. Enquanto isso, o Pinguim do meu pai parecia que estava num lago, e congelado ainda por cima.
Remamos até uma praiazinha logo após a praia das Cigarras, 1h35m de remada. Na volta, muito cansado, quase não consegui me manter sobre o caiaque.

Chegando à praia, o Capitão me aconselhou a trocar a embarcação. "É um caiaque mais veloz, que exige menos esforço pra remar, porém, a energia que você economiza na remada você gasta tentando se equilibrar!". E era bem isso o que estava acontecendo. Em um mar mais calmo, sem problemas, o caiaque se comportava muito bem, mas com um mar como naquele dia, seria muito custoso remar.

Pensando nisso, alguns dias depois resolvi mesmo trocar de caiaque. Compramos um outro Pinguim Fishing, que a esta hora já deve estar em São Sebastião. Neste final de semana tem treino, vamos fazer o trajeto até o Guaecá - a previsão diz que fará sol, com ventos de leste de 16 nós. Logo mais coloco as minhas impressões mais apuradas sobre o Pinguim.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Primeira opção de roteiro - pelo sul

A ideia inicial era fazer todo o trajeto em no máximo seis dias. Olhando bem o mundaréu de água pela frente e a proposta de curtir a viagem, pensei neste roteiro, que o sr. Donizete gostou, "mas temos que estudar outras possibilidades".
Bom, essa é uma das opções caso saiamos pelo sul. Sim, nada está definido, e só vai ser definido mesmo no dia da saída, com as condições do mar.


A viagem começa no Bairro, em São Sebastião. O primeiro trecho é o em vermelho claro.

1º dia: Bairro - Curral
Um trecho de 15,3 km, com saída de São Sebá, passando pelo pier da Petrobrás, pelo balsa e pelo porto até chegar na Ponta do Araçá. De lá atravessamos o canal até chegar na Ilha das Cabras, já na Ilhabela. Seguimos dali sentido sul, passando pela Feiticeira e pelo Julião até alcançar o Curral. Ali passamos a noite.

2º dia: Curral - Bonete
O maior trecho da travessia, com 21,5 km. Aqui a coisa é séria, pois não há praias no trecho inteiro, só costão e pedras. Vai ser bom. Dormimos no Bonete.

3º dia: Bonete - Saco do Diogo
Um trecho bem curto, de 8,3 km, saindo do Bonete, passando pela Anchovas, Indaiaúba até chegar no Saco do Diogo, onde, segundo relatos, tem lugar pra subir com os caiaques e pernoitar. Como esse trecho é bem curto, podemos sair mais tarde do Bonete e ir parando nas praias do caminho.

4º dia: Saco do Diogo - Saco do Sombrio
Agora sim. Agora são separados os meninos dos homens. Nesse trecho de quase 21 km a gente faz a volta na Ponta do Boi, sem nenhuma faixa de areia até o final, em mar aberto. Passaremos por cima de vários naufrágios. E que Deus nos acompanhe.
A ideia é tentar dormir no Saco do Sombrio, mas não sei se isso é possível. Caso não seja, a alternativa é remar mais 3 km e pernoitar na Praia da Figueira.

5º dia: Saco do Sombrio - Castelhanos
Depois de um braço mais longo, melhor descansar nesse trecho curtinho, de 8,3 km, e passar o dia à toa na praia dos Castelhanos...

6º dia: Castelhanos - Serraria
Um trecho de 11,8 km, com algumas praias no caminho (Saco do Eustáquio, Guanxuma, Caveira). Dormir na Serraria, onde tem uma infraestrutura legal.

7º dia: Serraria - Pacuíba
15,7 km, passando pelas praias do Poço, Fome e Jabaquara. Quase no fim!

8º dia: Pacuíba - Ilha das Cabras
Último trecho, já cansados, com mais 16,7 km pela frente. Entramos novamente no canal, passando pela face oeste toda da ilha, parando pra almoçar, provavelmente, até a Ilha das Cabras. De lá eu não sei, acho melhor deixar um SAMU de prontidão ali.

Posteriormente posto a alternativa saindo pelo norte.

domingo, 6 de outubro de 2013

A segunda saída!

Dia 22.set realizamos o segundo teste com os caiaques. Meu pai disse que tinha, uma semana antes, ido desde o Bairro até uma praia próxima à Enseada, fazendo o percurso em 1h30min. Resolvemos repetir o trajeto.
Levei um cano de alumínio de 1,80 m que achei em casa pra testar uma ideia que tivemos: montar uma espécie de bolina pra melhorar a estabilidade do Tubarão quando o mar estiver mais revolto. Trepassei o cano em uma das extremidades com um parafuso grande que encontrei em casa, pra travar no convés - o caiaque possui um furo de cerca de uma polegada bem próximo ao banco pra drenar a água que entra, é por este furo que passará a "bolina".
Logo no início, notei que eu já estava bem mais acostumado com o caiaque, engraçado como, mesmo com 20 dias sem remar, o corpo havia "memorizado" o equilíbrio que eu teria que dar no caiaque. Caí uma só vez no trajeto todo! Meu pai já estava completamente adaptado, sem problemas.
Testei a bolina, funcionou muito bem. Precisamos apenas aprimorar o projeto, mas acho que será muito útil em um momento de emergência.
Fomos remando bem devagar, sem pressa nenhuma, na direção norte. Passamos pela praia da Figueira e seguimos pela costeira, descobrindo praias pequenas - e particulares - que nunca imaginei a existência, até chegar à Cigarras. Não paramos, e demos a volta no pontão, avistando a Enseada de Caraguá. Nesse ponto, o tempo tava bem feio.

"Tempestade adiante, marujo!"

Bom, não choveu, não ventou forte, e seguimos até uma prainha minúscula algumas centenas de metros adiante. Paramos, tomamos uma água e seguimos até a "Praia das Gaivotas", que eu nem sabia que tinha esse nome até ver no Google Earth. Demos um tempo e voltamos, agora de uma vez e marcando o tempo. Novamente, fizemos tranquilamente, apenas não paramos. Remamos 5,7 km em 1h08min. Um tempo que me animou profundamente. Eu não tinha muita ideia de qual velocidade conseguiríamos desenvolver, e acho que, indo a 5 km/h podemos fazer tranquilamente 30 km por dia, o que está bem além da nossa meta. Falta saber se o corpo aguenta, e esse é o objetivo da nossa próxima saída.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Alguns pequenos comentários...

...sobre o que tenho visto nas minhas pesquisas pela internet...


  • Todos os que deram a volta na Ilhabela remando o fizeram em menos de 4 dias. Teve uns malucos  que fizeram em dois (www.youtube.com/watch?v=i4ifODQn3xY);
  • Todos os que deram a volta na Ilhabela remando utilizaram caiaques fechados. Não há relatos de sobreviventes com sit on top;
  • Todos os que deram a volta na Ilhabela remando levaram pouquíssima bagagem;
  • Todos os que deram a volta na Ilhabela remando utilizaram remos com desenho especial ("Rasmussen", "Lendall", sei lá, entendo porcaria nenhuma de remo);
  • Todos os que deram a volta na Ilhabela remando são pessoas muito mais felizes agora.

sábado, 28 de setembro de 2013

Na água pela primeira vez

No dia 03 de setembro eu ganhei uma folga do trampo e desci pra realizar o primeiro teste com os caiaques. Fomos nós dois com os recém adquiridos para a praia do Bairro de São Francisco. A primeira boa impressão: os caiaques são extremamente leves. Segundo o site da fabricante, o Tubarão pesa 24 kg e o Fishing pesa apenas 23 kg, e essa leveza toda se nota quando descarregamos os dois do rac do carro pra levar até a areia, manobra essa realizada com bastante facilidade.

Preparando pra ir pra água!

Acomodei minha camiseta, minha máquina fotográfica e meu celular nos compartimentos estanques, confiando total e cegamente na sua estanqueidade, e puxamos os caiaques para a água. Meu pai logo montou e saiu remando. Eu, empolgado com a visão, subi no Tubarão com o mesmo ímpeto, porém ele, já numa primeira demonstração de indomabilidade, me jogou na água pelo bordo oposto. Um pouco atônito por causa da água fria e pelo golpe rápido aplicado pela embarcação em mim retornei para perto do Tubarão, atribuindo a queda ao enorme tempo que separava aquele momento da última vez que havia subido em um caiaque. Dessa vez com mais calma, passei uma das pernas por cima do banco, montado sobre o mesmo, porém com as pernas dentro da água. A instabilidade do caiaque era incrível! Dei algumas remadas ainda naquela posição, e cada tentativa de colocar as pernas pra dentro da embarcação era uma queda na água. Ao menos treinei bastante a manobra de subir no caiaque em locais onde não dava pé.

Me acostumando com o xucro.

Meu pai ficou observando de longe. O Pinguim era, ao contrário do Tubarão, extremamente estável. Ele deu algumas remadas para longe de mim (talvez com um pouco de vergonha do seu filho não conseguir nem subir no caiaque), fez um test drive geral. O mar não estava muito calmo, virando, e o vento estava forte, vindo de sul. Ao voltar ele elogiou a performance e a leveza, e teceu largos elogios ao encosto do banco. À essa altura eu já havia entrado em um acordo bilateral com o Tubarão, e estava dando pequenas voltas, sem me afastar muito da praia.

O Capitão tirando onda.

Decidimos trocar de caiaque. Subi no Pinguim, e, Jesus, era muito bom! Eu tentei, fiz força, balancei, mas não consegui virar o caiaque. O fundo chato fazia diferença, e o conforto era grande. Porém, dava pra sentir que era necessário fazer mais esforço pra remar do que o Tubarão, o caiaque apresentava um arrasto maior. Meu pai subiu no Tubarão rapidamente, porém sentiu a instabilidade dele. Deu umas voltas, sem cair, mas disse que não se sentia nem um pouco seguro sobre aquele pedaço de plástico.
Fizemos uma pausa e decidimos dar uma volta maior, até o píer da marina da praia do Arrastão, ao sul, uma remada de quase 3 km, contando ida e volta. Destrocamos os caiaque e partimos. O vento estava mais forte, e na ida remamos contra ele. Eu já estava um pouco mais acostumado com o balanço do Tubarão, mas ainda não totalmente confiante. O desempenho desse caiaque contra o vento é surpreendente, quase não se sente o arrasto.
No píer o vento esta ainda pior, e o mar com bastante ondas. Lá caí uma vez, subindo rapidamente pra não me chocar contra o píer (as cracas iam fazer um belo estrago em mim), porém, de um modo geral nos demos muito bem. Na volta, com vento e maré em popa, senti bastante dificuldade em manobrar o caiaque, acredito que devido ao comprimento dele (3,5m contra 2,9m do Pinguim). Mas chegamos os dois bem.
Os compartimentos estanque funcionaram muito bem nos dois caiaques. Uma coisa que me encucou foi o remo, me pareceu curto pra mim. Não sei se é isso mesmo ou se eu preciso aprender a remar direito. Mas de um modo geral os caiaques foram aprovados, com a ressalva de que eu vou precisar remar BASTANTE pra me acostumar e adquirir a confiança necessária pra enfrentar mar aberto. E isso, só treinando muito.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Apresentando os aventureiros. Hoje: Donizete!

Esse caiçara natural de São Sebastião, nascido de parteira na casa da família, criado na praia do Areão - que hoje nem existe mais - com mais 8 irmãos, crescido passando arrasto e brincando de canoa, esse senhor hoje aposentado da Petrobrás, pai de dois e criador de vários, esta figura é quem a natureza e o destino (esses danadinhos) entenderam de me dar como pai.
Bom, desde que me entendo por gente ele pratica mergulho livre, na verdade pesca submarina. Me ensinou a nadar, a mergulhar, a acampar, a fazer trilha. E hoje, os seus 57 anos não o impedirão de remar 120 km por puro prazer.
Assim como eu, não está totalmente em forma pra essa travessia. Não somos atletas, não fazemos esse tipo de coisa o tempo inteiro. E no final, acho que isso é o mais legal: tentar algo difícil, ter um objetivo acima do usual. Está óbvio teremos que treinar bastante, adquirir resistência, fôlego, força. E fazer isso ao lado do meu pai vai ser sensacional!
A grande verdade é que eu dificilmente embarcaria numa viagem dessas sem a companhia, a paciência e a experiência no mar do meu velho. Sem dúvida será reconfortante olhar pro caiaque do lado e ver que ele está ali, será uma segurança que eu não sei se conseguiria com outra pessoa.

Não vejo a hora! Vamo que vamo!

O capitão se preparando pra mais uma remada.

domingo, 22 de setembro de 2013

O primeiro passo!

A primeira coisa que você precisa quando vai fazer uma travessia de caiaque é... um caiaque! E nós não tínhamos nenhum.
Andamos pesquisando, tanto em São Paulo quanto em São Sebastião, e, principalmente, pela internet. Vimos alguns modelos, e os preços rodavam por volta dos R$ 1.400,00. Estávamos procurando caiaques do tipo sit on top, ou seja, desses modelos novos, comumente chamados de "abertos". Os novos materiais utilizados, no lugar da fibra de vidro, deixam este tipo de caiaque muito leve e fácil de remar - ao menos em comparação com os antigos!
Certo dia, passeando pela Vila Madalena, passei em uma loja de pranchas para perguntar se vendiam caiaques. Depois da negativa, o atendente me indicou uma empresa chamada Caiaker, dizendo que eram bons, e que sempre indicava quando perguntavam a ele. Fui buscar na internet, achei o site e pesquisei os modelos. Gostei dos caiaques e mostrei pro meu pai, que também gostou. Fechamos então com eles, escolhendo dois caiaques diferentes.
Eu acabei optando pelo Tubarão (www.caiaker.com.br/tubarao.html), um modelo grande, de casco redondo, com dois compartimentos estanque e um bagageiro grande também. Um caiaque feito para expedições mesmo. O vendedor me disse que era um ótimo caiaque, mas que era bem instável, e que era necessário uma certa prática para remar. Como já sabia remar, já conhecia um pouco de caiaques, achei que seria tranquilo.
Já meu pai escolheu o modelo Pinguim Fishing (www.caiaker.com.br/fishing.html), um caiaque largo, de casco chato, bem estável. O bagageiro era menor, mas possui um banco com encosto. Me pareceu um caiaque bem confortável, e com capacidade de 140kg, mais que o Tubarão.
Fomos buscar os danados direto na fábrica da Caiaker, em Taboão da Serra, e no mesmo dia descemos com eles.

Caiaques já em São Sebá, prontos para serem utilizados pela primeira vez no Bairro.

Nas próximas postagens falarei sobre as primeiras impressões sobre os caiaques. Serão eles bons? Estáveis? Boa manobrabilidade? Eles realmente bóiam? Aguardem!




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Como, quando, onde?

Mas, o que é Ilhabela?


Ilhabela é um dos únicos município–arquipélago marinho brasileiro e está localizado no litoral norte do estado de São Paulo. Possui uma das mais acidentadas paisagens da região costeira brasileira, com todas as características de relevo jovem. Suas principais ilhas são, pela ordem em termos de área, a de São Sebastião, a dos Búzios, a da Vitória e a dos Pescadores - todas habitadas. Fazem parte ainda do arquipélago os ilhotes das Cabras, da Sumítica, da Serraria, dos Castelhanos, da Lagoa, da Figueira e das Enchovas.


Com 337,5 km², a Ilha de São Sebastião é a segunda maior ilha marítima do Brasil, superada apenas pela de Santa Catarina. Em sua orla – com 128 quilômetros de extensão – o relevo desenha reentrâncias e mergulhos, com 45 praias principais e outra dezena de pequeninas praias situadas irregularmente ao pé das escarpas.




Ilhabela, ao centro, com São Sebá à oeste. As outras ilhas são Búzios e Vitória, de oeste para leste.

O planejamento geral da viagem já está pronto. Nossa vontade é fazer a travessia entre o Natal e o Ano Novo de 2013, sem uma data específica nem um prazo muito rígido pra terminar. Acredito que podemos fazer o trajeto entre 5 e 6 dias, parando nas praias para descansar e pernoitar. A ideia é curtir, sem pressa.

Planejamos levar algo cerca de 20 kg cada um em bagagem, à qual estão incluídos roupas, barracas, equipamento de mergulho, primeiros socorros, comida e água, entre outros itens importantes.
À princípio iremos iniciar a volta pelo sul da Ilha, no sentido anti-horário. Planejamos sair do Bairro de São Francisco, em São Sebastião, atravessar o canal e, no primeiro dia, alcançar a praia do Bonete, no sul. Pensamos até, caso tenhamos tempo e disposição, em passar uma noite em Búzios.

Ahoy!

domingo, 15 de setembro de 2013

Rascunhos iniciais

A ideia de dar a volta na Ilhabela a remo existia na cabeça do meu pai, o sr. Donizete, desde muito tempo. Desde criança ele me falava disso.

"Qualquer dia vou pegar você e sua irmã e dar a volta na Ilha de caiaque!"

Apesar de caiçara da proa à popa, grande conhecedor das manhas e das manhãs do mar, obviamente ele não tinha muito juízo na cabeça. É verdade que esse tipo de aventura nunca foi muito distante pra nós; quantas vezes não fomos à pé para o Bonete e Castelhanos, dezenas de acampamentos na Costa Sul de São Sebastião, na praia e no mato, viagens longas de carro... Sim, nós, crianças, aguentávamos bem o tranco, porém meu velho não ponderava muito bem a magnitude de uma volta à remo na segunda maior ilha oceânica do Brasil acompanhado de dois infantes.
Acredito que, pelo bem de todos, quis Deus que jamais conseguíssemos realizar a proeza. A ideia inicial do meu pai era utilizar caiaques duplos, pois assim utilizaríamos um dos lugares para levar a bagagem. E, à época, a tecnologia que existia era a de caiaques fechados, de fibra de vidro, pesados. Chegamos a ter alguns, os quais em um certo verão nos idos finais da década de 90 utilizávamos para alugar na Praia Grande, em São Sebá. Foi um verão cansativo, mas que fez retornar à nossa cabeça aquela vontade de voltear a Ilha. Tínhamos um caiaque duplo, mas apenas um. Dessa forma, a ideia novamente hibernou, aguardando a primavera chegar...

Tínhamos alguns caiaques como esse, da Mistral.

E a primavera chegou em pleno inverno julino. Esperando o ônibus pra São Paulo no ponto de ônibus ali do Bairro, na praça da Figueira, após um final de semana de frio, estávamos eu e meu pai conversando, jogando papo fora.

"E aquela ideia de dar a volta na ilha de caiaque, pai?"
"Haha, você lembra? Que doidera, né..."
"Pois é..."
...
"Hmmm... Por quê a gente não tenta?"
"É... uma boa, hein?"
"Certo, depois a gente conversa, o busão tá vindo..."

E fui a viagem toda pensando naquilo. Naquela mesma semana liguei pro meu pai, lembrando do acordado. Ele riu, achou estranho, mas viu que eu estava falando sério. E que, agora, não teríamos mais escapatória, a semente estava plantada.

sábado, 14 de setembro de 2013

O início de uma aventura...

Vamos, através desde blog, tentar relatar os passos que nos levarão à realização de uma aventura que há muito tempo viemos engedrando, e que tomou corpo e alma definitivos somente neste ano. Não é nada inédito, algumas pessoas já se arriscaram neste tour, o que, na verdade, nos torna mais confiantes em relação à ela.
O que faremos será, em um grupo de três pessoas, tentar contornar a ilha de São Sebastião, mais conhecida como Ilhabela, no litoral norte do estado de São Paulo, a bordo de caiaques a remo, em um prazo máximo de seis dias.

Em breve serão postados maiores detalhes sobre a epopéia!