domingo, 15 de setembro de 2013

Rascunhos iniciais

A ideia de dar a volta na Ilhabela a remo existia na cabeça do meu pai, o sr. Donizete, desde muito tempo. Desde criança ele me falava disso.

"Qualquer dia vou pegar você e sua irmã e dar a volta na Ilha de caiaque!"

Apesar de caiçara da proa à popa, grande conhecedor das manhas e das manhãs do mar, obviamente ele não tinha muito juízo na cabeça. É verdade que esse tipo de aventura nunca foi muito distante pra nós; quantas vezes não fomos à pé para o Bonete e Castelhanos, dezenas de acampamentos na Costa Sul de São Sebastião, na praia e no mato, viagens longas de carro... Sim, nós, crianças, aguentávamos bem o tranco, porém meu velho não ponderava muito bem a magnitude de uma volta à remo na segunda maior ilha oceânica do Brasil acompanhado de dois infantes.
Acredito que, pelo bem de todos, quis Deus que jamais conseguíssemos realizar a proeza. A ideia inicial do meu pai era utilizar caiaques duplos, pois assim utilizaríamos um dos lugares para levar a bagagem. E, à época, a tecnologia que existia era a de caiaques fechados, de fibra de vidro, pesados. Chegamos a ter alguns, os quais em um certo verão nos idos finais da década de 90 utilizávamos para alugar na Praia Grande, em São Sebá. Foi um verão cansativo, mas que fez retornar à nossa cabeça aquela vontade de voltear a Ilha. Tínhamos um caiaque duplo, mas apenas um. Dessa forma, a ideia novamente hibernou, aguardando a primavera chegar...

Tínhamos alguns caiaques como esse, da Mistral.

E a primavera chegou em pleno inverno julino. Esperando o ônibus pra São Paulo no ponto de ônibus ali do Bairro, na praça da Figueira, após um final de semana de frio, estávamos eu e meu pai conversando, jogando papo fora.

"E aquela ideia de dar a volta na ilha de caiaque, pai?"
"Haha, você lembra? Que doidera, né..."
"Pois é..."
...
"Hmmm... Por quê a gente não tenta?"
"É... uma boa, hein?"
"Certo, depois a gente conversa, o busão tá vindo..."

E fui a viagem toda pensando naquilo. Naquela mesma semana liguei pro meu pai, lembrando do acordado. Ele riu, achou estranho, mas viu que eu estava falando sério. E que, agora, não teríamos mais escapatória, a semente estava plantada.

2 comentários:

  1. Na verdade, a semente só estava esperando o melhor momento de se lançar à terra! Desde 1985 escuto rumores sobre essa aventura.

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