sábado, 28 de setembro de 2013

Na água pela primeira vez

No dia 03 de setembro eu ganhei uma folga do trampo e desci pra realizar o primeiro teste com os caiaques. Fomos nós dois com os recém adquiridos para a praia do Bairro de São Francisco. A primeira boa impressão: os caiaques são extremamente leves. Segundo o site da fabricante, o Tubarão pesa 24 kg e o Fishing pesa apenas 23 kg, e essa leveza toda se nota quando descarregamos os dois do rac do carro pra levar até a areia, manobra essa realizada com bastante facilidade.

Preparando pra ir pra água!

Acomodei minha camiseta, minha máquina fotográfica e meu celular nos compartimentos estanques, confiando total e cegamente na sua estanqueidade, e puxamos os caiaques para a água. Meu pai logo montou e saiu remando. Eu, empolgado com a visão, subi no Tubarão com o mesmo ímpeto, porém ele, já numa primeira demonstração de indomabilidade, me jogou na água pelo bordo oposto. Um pouco atônito por causa da água fria e pelo golpe rápido aplicado pela embarcação em mim retornei para perto do Tubarão, atribuindo a queda ao enorme tempo que separava aquele momento da última vez que havia subido em um caiaque. Dessa vez com mais calma, passei uma das pernas por cima do banco, montado sobre o mesmo, porém com as pernas dentro da água. A instabilidade do caiaque era incrível! Dei algumas remadas ainda naquela posição, e cada tentativa de colocar as pernas pra dentro da embarcação era uma queda na água. Ao menos treinei bastante a manobra de subir no caiaque em locais onde não dava pé.

Me acostumando com o xucro.

Meu pai ficou observando de longe. O Pinguim era, ao contrário do Tubarão, extremamente estável. Ele deu algumas remadas para longe de mim (talvez com um pouco de vergonha do seu filho não conseguir nem subir no caiaque), fez um test drive geral. O mar não estava muito calmo, virando, e o vento estava forte, vindo de sul. Ao voltar ele elogiou a performance e a leveza, e teceu largos elogios ao encosto do banco. À essa altura eu já havia entrado em um acordo bilateral com o Tubarão, e estava dando pequenas voltas, sem me afastar muito da praia.

O Capitão tirando onda.

Decidimos trocar de caiaque. Subi no Pinguim, e, Jesus, era muito bom! Eu tentei, fiz força, balancei, mas não consegui virar o caiaque. O fundo chato fazia diferença, e o conforto era grande. Porém, dava pra sentir que era necessário fazer mais esforço pra remar do que o Tubarão, o caiaque apresentava um arrasto maior. Meu pai subiu no Tubarão rapidamente, porém sentiu a instabilidade dele. Deu umas voltas, sem cair, mas disse que não se sentia nem um pouco seguro sobre aquele pedaço de plástico.
Fizemos uma pausa e decidimos dar uma volta maior, até o píer da marina da praia do Arrastão, ao sul, uma remada de quase 3 km, contando ida e volta. Destrocamos os caiaque e partimos. O vento estava mais forte, e na ida remamos contra ele. Eu já estava um pouco mais acostumado com o balanço do Tubarão, mas ainda não totalmente confiante. O desempenho desse caiaque contra o vento é surpreendente, quase não se sente o arrasto.
No píer o vento esta ainda pior, e o mar com bastante ondas. Lá caí uma vez, subindo rapidamente pra não me chocar contra o píer (as cracas iam fazer um belo estrago em mim), porém, de um modo geral nos demos muito bem. Na volta, com vento e maré em popa, senti bastante dificuldade em manobrar o caiaque, acredito que devido ao comprimento dele (3,5m contra 2,9m do Pinguim). Mas chegamos os dois bem.
Os compartimentos estanque funcionaram muito bem nos dois caiaques. Uma coisa que me encucou foi o remo, me pareceu curto pra mim. Não sei se é isso mesmo ou se eu preciso aprender a remar direito. Mas de um modo geral os caiaques foram aprovados, com a ressalva de que eu vou precisar remar BASTANTE pra me acostumar e adquirir a confiança necessária pra enfrentar mar aberto. E isso, só treinando muito.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Apresentando os aventureiros. Hoje: Donizete!

Esse caiçara natural de São Sebastião, nascido de parteira na casa da família, criado na praia do Areão - que hoje nem existe mais - com mais 8 irmãos, crescido passando arrasto e brincando de canoa, esse senhor hoje aposentado da Petrobrás, pai de dois e criador de vários, esta figura é quem a natureza e o destino (esses danadinhos) entenderam de me dar como pai.
Bom, desde que me entendo por gente ele pratica mergulho livre, na verdade pesca submarina. Me ensinou a nadar, a mergulhar, a acampar, a fazer trilha. E hoje, os seus 57 anos não o impedirão de remar 120 km por puro prazer.
Assim como eu, não está totalmente em forma pra essa travessia. Não somos atletas, não fazemos esse tipo de coisa o tempo inteiro. E no final, acho que isso é o mais legal: tentar algo difícil, ter um objetivo acima do usual. Está óbvio teremos que treinar bastante, adquirir resistência, fôlego, força. E fazer isso ao lado do meu pai vai ser sensacional!
A grande verdade é que eu dificilmente embarcaria numa viagem dessas sem a companhia, a paciência e a experiência no mar do meu velho. Sem dúvida será reconfortante olhar pro caiaque do lado e ver que ele está ali, será uma segurança que eu não sei se conseguiria com outra pessoa.

Não vejo a hora! Vamo que vamo!

O capitão se preparando pra mais uma remada.

domingo, 22 de setembro de 2013

O primeiro passo!

A primeira coisa que você precisa quando vai fazer uma travessia de caiaque é... um caiaque! E nós não tínhamos nenhum.
Andamos pesquisando, tanto em São Paulo quanto em São Sebastião, e, principalmente, pela internet. Vimos alguns modelos, e os preços rodavam por volta dos R$ 1.400,00. Estávamos procurando caiaques do tipo sit on top, ou seja, desses modelos novos, comumente chamados de "abertos". Os novos materiais utilizados, no lugar da fibra de vidro, deixam este tipo de caiaque muito leve e fácil de remar - ao menos em comparação com os antigos!
Certo dia, passeando pela Vila Madalena, passei em uma loja de pranchas para perguntar se vendiam caiaques. Depois da negativa, o atendente me indicou uma empresa chamada Caiaker, dizendo que eram bons, e que sempre indicava quando perguntavam a ele. Fui buscar na internet, achei o site e pesquisei os modelos. Gostei dos caiaques e mostrei pro meu pai, que também gostou. Fechamos então com eles, escolhendo dois caiaques diferentes.
Eu acabei optando pelo Tubarão (www.caiaker.com.br/tubarao.html), um modelo grande, de casco redondo, com dois compartimentos estanque e um bagageiro grande também. Um caiaque feito para expedições mesmo. O vendedor me disse que era um ótimo caiaque, mas que era bem instável, e que era necessário uma certa prática para remar. Como já sabia remar, já conhecia um pouco de caiaques, achei que seria tranquilo.
Já meu pai escolheu o modelo Pinguim Fishing (www.caiaker.com.br/fishing.html), um caiaque largo, de casco chato, bem estável. O bagageiro era menor, mas possui um banco com encosto. Me pareceu um caiaque bem confortável, e com capacidade de 140kg, mais que o Tubarão.
Fomos buscar os danados direto na fábrica da Caiaker, em Taboão da Serra, e no mesmo dia descemos com eles.

Caiaques já em São Sebá, prontos para serem utilizados pela primeira vez no Bairro.

Nas próximas postagens falarei sobre as primeiras impressões sobre os caiaques. Serão eles bons? Estáveis? Boa manobrabilidade? Eles realmente bóiam? Aguardem!




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Como, quando, onde?

Mas, o que é Ilhabela?


Ilhabela é um dos únicos município–arquipélago marinho brasileiro e está localizado no litoral norte do estado de São Paulo. Possui uma das mais acidentadas paisagens da região costeira brasileira, com todas as características de relevo jovem. Suas principais ilhas são, pela ordem em termos de área, a de São Sebastião, a dos Búzios, a da Vitória e a dos Pescadores - todas habitadas. Fazem parte ainda do arquipélago os ilhotes das Cabras, da Sumítica, da Serraria, dos Castelhanos, da Lagoa, da Figueira e das Enchovas.


Com 337,5 km², a Ilha de São Sebastião é a segunda maior ilha marítima do Brasil, superada apenas pela de Santa Catarina. Em sua orla – com 128 quilômetros de extensão – o relevo desenha reentrâncias e mergulhos, com 45 praias principais e outra dezena de pequeninas praias situadas irregularmente ao pé das escarpas.




Ilhabela, ao centro, com São Sebá à oeste. As outras ilhas são Búzios e Vitória, de oeste para leste.

O planejamento geral da viagem já está pronto. Nossa vontade é fazer a travessia entre o Natal e o Ano Novo de 2013, sem uma data específica nem um prazo muito rígido pra terminar. Acredito que podemos fazer o trajeto entre 5 e 6 dias, parando nas praias para descansar e pernoitar. A ideia é curtir, sem pressa.

Planejamos levar algo cerca de 20 kg cada um em bagagem, à qual estão incluídos roupas, barracas, equipamento de mergulho, primeiros socorros, comida e água, entre outros itens importantes.
À princípio iremos iniciar a volta pelo sul da Ilha, no sentido anti-horário. Planejamos sair do Bairro de São Francisco, em São Sebastião, atravessar o canal e, no primeiro dia, alcançar a praia do Bonete, no sul. Pensamos até, caso tenhamos tempo e disposição, em passar uma noite em Búzios.

Ahoy!

domingo, 15 de setembro de 2013

Rascunhos iniciais

A ideia de dar a volta na Ilhabela a remo existia na cabeça do meu pai, o sr. Donizete, desde muito tempo. Desde criança ele me falava disso.

"Qualquer dia vou pegar você e sua irmã e dar a volta na Ilha de caiaque!"

Apesar de caiçara da proa à popa, grande conhecedor das manhas e das manhãs do mar, obviamente ele não tinha muito juízo na cabeça. É verdade que esse tipo de aventura nunca foi muito distante pra nós; quantas vezes não fomos à pé para o Bonete e Castelhanos, dezenas de acampamentos na Costa Sul de São Sebastião, na praia e no mato, viagens longas de carro... Sim, nós, crianças, aguentávamos bem o tranco, porém meu velho não ponderava muito bem a magnitude de uma volta à remo na segunda maior ilha oceânica do Brasil acompanhado de dois infantes.
Acredito que, pelo bem de todos, quis Deus que jamais conseguíssemos realizar a proeza. A ideia inicial do meu pai era utilizar caiaques duplos, pois assim utilizaríamos um dos lugares para levar a bagagem. E, à época, a tecnologia que existia era a de caiaques fechados, de fibra de vidro, pesados. Chegamos a ter alguns, os quais em um certo verão nos idos finais da década de 90 utilizávamos para alugar na Praia Grande, em São Sebá. Foi um verão cansativo, mas que fez retornar à nossa cabeça aquela vontade de voltear a Ilha. Tínhamos um caiaque duplo, mas apenas um. Dessa forma, a ideia novamente hibernou, aguardando a primavera chegar...

Tínhamos alguns caiaques como esse, da Mistral.

E a primavera chegou em pleno inverno julino. Esperando o ônibus pra São Paulo no ponto de ônibus ali do Bairro, na praça da Figueira, após um final de semana de frio, estávamos eu e meu pai conversando, jogando papo fora.

"E aquela ideia de dar a volta na ilha de caiaque, pai?"
"Haha, você lembra? Que doidera, né..."
"Pois é..."
...
"Hmmm... Por quê a gente não tenta?"
"É... uma boa, hein?"
"Certo, depois a gente conversa, o busão tá vindo..."

E fui a viagem toda pensando naquilo. Naquela mesma semana liguei pro meu pai, lembrando do acordado. Ele riu, achou estranho, mas viu que eu estava falando sério. E que, agora, não teríamos mais escapatória, a semente estava plantada.

sábado, 14 de setembro de 2013

O início de uma aventura...

Vamos, através desde blog, tentar relatar os passos que nos levarão à realização de uma aventura que há muito tempo viemos engedrando, e que tomou corpo e alma definitivos somente neste ano. Não é nada inédito, algumas pessoas já se arriscaram neste tour, o que, na verdade, nos torna mais confiantes em relação à ela.
O que faremos será, em um grupo de três pessoas, tentar contornar a ilha de São Sebastião, mais conhecida como Ilhabela, no litoral norte do estado de São Paulo, a bordo de caiaques a remo, em um prazo máximo de seis dias.

Em breve serão postados maiores detalhes sobre a epopéia!