sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Dia 29/12 - Dia 4

Depois de termos cogitado, na noite anterior, de sair ainda de madrugada, uma vez que teríamos uma bela perna pra fazer hoje, e sermos desencorajados pelo sr. Lauro, acordamos bem cedo, tomamos nosso café da manhã (granola, bolacha e pão com queijo - de novo), arrumamos todo o acampamento (que estava bem molhado devido à chuva da noite) e, às 8h10 da manhã já estávamos na água. Logo na saída meu apito caiu no meio da arrebentação, e o perdi.

Mais um amanhecer, agora na Figueira. 

 Arrumando as coisas pra partida

Praia da Figueira pela manhã (a sujeira não foi nossa!)

Voltando pro mar

No primeiro trecho remamos em linha reta da praia da Figueira até a Ponta da Chave, passando pelas ilhotas da Galhetas, dois verdadeiros monoblocos de rocha granítica que resolvem emergir no meio do mar sem dar qualquer explicação. Logo após passar as ilhas é possível vislumbrar o Saco do Sombrio, local onde fica instalada uma subsede do Yacht Club de Ilhabela. Primeiramente observa-se uma pequena praia  e, seguindo mais adiante, a marina. Aliás, uma curiosidade: segundo o site do próprio Yacht CLub, "Sombrio" era o apelido de Thomas Cavendish, famoso pirata do século 16 que teria feito daquela baía uma base temporária. Aliás, "saco" é uma outra denominação pro acidente geográfico que chamamos de "baía", porém de tamanho reduzido.
Passando o Sombrio, contorna-se a Ponta do Caraguatá e, alguns metros adiante, chega-se, enfim, à Ponta do Pirassununga, que marca o fim da baía dos Castelhanos. E aí estamos em mar aberto, novamente.

 Saindo da Figueira, em direção às duas ilhotas.

 Em direção ao sol nascente

Passando pela primeira - e maior - das ilhotas. 

Ao passar pela segunda, é possível ver o Saco do Sombrio. 

Saco do Sombrio, ao fundo. 

Detalhe do convés.Indo em direção à Ponta da Chave. 

Pausa pra comer, beber, descansar, e consultar o mapa, quase na ponta da Chave.

Ponta do Pirassununga. Láááá no fundo, a ponta da Pirabura.

Resolvemos cortar da Ponta da Pirassununga diretamente para a Ponta da Pirabura, sem entrar na enseada formada por estas duas pontas. Assim, navegaríamos a cerca de 1 km da costa mais próxima, por pelo menos uns 6 km. E assim fizemos. Diversos barcos passavam por nós, e tivemos que fazer algumas paradas pra descansar. Em uma delas, estávamos mais ou menos alinhados com a Ponta da Navalha, com os caiaques amarrados e comendo algo (barras de cereais, muito provavelmente...). Estávamos conversando e, em um momento de silêncio, ouvimos um som esquisito, como uma esguichada de ar com água. Olhamos em volta e não vimos nada. De repente, outra vez. "Deve ser golfinho de novo!", mas não parecia golfinho, pois quando o grupo sobe à superfície, ouvem-se várias respirações, e essa era única. Ficamos observando por mais um tempo e, de repente, no horizonte, um chafariz e o dorso escuro de uma baleia! Ela estava distante uns 200 metros de nós, e eu, que nunca tinha visto uma assim, ao vivo, queria ir até lá pra ver de perto, mas, graças a Deus, meu pai estava lá e não deixou. Ficamos um tempão olhando de longe... Infelizmente, estava muito longe e a filmagem não ficou boa, e tampouco conseguimos definir que baleia seria. Mas foi algo que não esquecerei tão cedo.

Cortando da Ponta da Pirassununga diretamente pra Ponta da Pirabura.

A aparição da Baleia! Primeiro, um esguicho... 

...o esguicho se dissipa, e aparece o dorso... 

 ...e no final aparece todo o dorso escuro. Infelizmente, essa é a melhor sequência de fotos que temos...!

Continuamos a remar e chegamos, enfim, à Ponta da Pirabura, que marca o início do Costão do Boi, a parte mais perigosa de toda a travessia. De longe já se podia ver o farol, cumeando uma formação de rochas que pareciam ter se amontoado umas sobre as outras. Não sei se pela expectativa do que estaria por vir, mas a visão da ponta da Pirabura é um pouco amedrontadora. Comentamos isso entre nós (um pouco envergonhados, talvez), e vimos que o sentimento era mútuo. Não sei, dá uma sensação estranha de ver a água explodindo naquela costeira... Fiquei imaginando aquele local em um dia de tempestade, deve ser algo bem sinistro.

Ponta da Pirabura e seu farol. 

Sinistro!

Mas a verdade é que, passando a Ponta da Pirabura, os quilômetros seguintes nos trariam uma boa surpresa. Ao contornar a ponta, o vento, que, de noroeste, nos estava jogando contra a costeira, agora afagava agradavelmente nossas costas, empurrando-nos pra frente. Era a primeira vez em 4 dias remando que tínhamos vento em popa, e a sensação foi muito boa! O mar estava bem crespo, é verdade, por conta da maré de sul que teimava em encarar de frente o vento; mas o vento, naquele momento, era muito mais nosso senhor do que as águas. Quando chegamos na Ponta do Boi, o vento estava muito forte, mas exatamente à popa, o que nos deu um belo empurrão. Aliás, neste ponto da viagem, o farol da Ponta do Boi merece um destaque: é muito bonito! Cor de marfim, quase branco, imponente, é uma bela visão desde o mar.

Quase chegando na Ponta do Boi. 

O farol do Boi 

Detalhe do farol do Boi 

Farol da Ponta do Boi 

Passando pela Ponta do Boi.

Continuamos a remar, já passava do meio dia. Eu estava bem cansado, mas estava contente pois estávamos chegando no Saco do Diogo, uma enseada abrigada do vento que não nos daria trabalho para cortar. Na teoria. Na prática, o vento de noroeste estava cortando a Ilha por cima, descendo as montanhas do Saco do Diogo e atingindo a água com uma violência tão grande que parecia estar querendo descontar o tanto que tínhamos usufruído dele algumas horas atrás. Assim que viramos a ponta do Diogo e vislumbramos as três ilhotas, este vento nos pegou pela bochecha de boreste dos caiaques, oferecendo a pior resistência que havíamos enfrentado até então. O vento criava algumas ondas, que ao se chocar com a proa do caiaque, respingavam, molhando óculos, boné, tudo. Decidimos cortar em linha reta desde a ponta do Diogo até a ponta Grande, passando em meio às ilhotas. Foi difícil. Acho que levamos umas duas horas pra fazer um trecho de pouco mais de 3 km, mas, enfim, conseguimos chegar até a ponta Grande, onde o vento deu uma trégua. Dali, mais algumas remadas e já estávamos nas águas abrigadas da praia de Idaiaúba, onde chegamos às 15h00, após desviar de algumas lanchas fundeadas ali.

Arrumando a câmera 

 A remada continuava...

Costão após a Ponta do Boi 

Entre o céu e o mar, com o verde ao nosso lado. 

Já no Saco do Diogo, aproximando das ilhotas. 

O Capitão passando entre as ilhotas.

Vento contra! 

 Já vislumbrando a praia da Idaiaúba

Ao chegar na praia e descer do caiaque, eu mal conseguia parar de pé. Depois de quase sete horas seguidas de remo, parecia que a terra firme estava "firme demais", e eu dei umas cambaleadas até me acostumar de novo. Depois de me livrar da lycra, das luvas, do chapéu, e de tomar uns bons goles d'água, pude reparar melhor o lugar no qual estávamos. Era uma praia linda, mar azul caribenho, areia amarelinha, sensacional! Ficamos descansando um pouco dentro d'água e depois meu pai foi buscar água pra reabastecer as garrafas. Quando ele voltou, me contou que achou uma cachoeira no canto direito da praia, e eu fui lá checar. Realmente, havia uma bela cachoeira, com um poço um pouco mais fundo, onde era possível entrar e proteger-se dos borrachudos. Tirei algumas fotos, e, na volta, uma moça chegou, curiosa, perguntando detalhes sobre o que estava fazendo. Disse que se chamava Denise e que vivia em Florianópolis, e estava a passeio com a família na Ilha. Chamou sua filha que, por coincidência, também era Engenheira Ambiental, e se chamava Jenifer. Nos convidou para realizar a mesma travessia na ilha de Florianópolis, e disse que daria o apoio que pudesse quando o fizéssemos. Anotou o endereço do blog e se foi. Decidimos ir também, pois ainda tínhamos alguns quilômetros até o Bonete, nosso último destino naquele dia.


Praia da Indaiaúba, belíssima 

Panorâmica da Indaiaúba 

Indaiaúba vista desde a cachoeira do canto direito. 

Cachoeira na Indaiaúba 

Vaza, oferenda!

Indaiaúba

Indaiaúba 

Indaiaúba 

Canto direito da Indaiaúba 

Só na apnéia 

Indaiaúba 

É, parece uma piscina, mas é mar 

Salto! 


E bomba! 

HUE

Ao sair da enseada da praia de Indaiaúba, às 16h00, e passar por um barco chamado Lucano, do Rio de Janeiro, o capitão nos chamou a atenção e ofereceu água gelada, cerveja, ou o que precisássemos. Agradecemos as ofertas e seguimos adiante, saindo do abrigo da baía e recebendo, pela popa, o vento noroeste que, agora, nos ajudaria a chegar ao nosso destino. Passamos pela costeira e pela praia das Anchovas, com sua cadeia de ilhotas que avançam em direção ao oceano, até alcançar a ponta do Bonete.

E aquela pedra, retinha, ali atrás? 

Seguindo para o Bonete. À frente, à direita, o morro do Bonete. 

Que bagunça... 

 Passando pelas ilhotas das Anchovas

 Ilhotas da Praia das Anchovas

Mar crespo 

Ponta do Bonete, com o morro ao fundo 

Enfim, a praia!

Ao virar a ponta, notamos logo a presença de muitos barcos atracados, e muita gente na praia. Nos aproximamos pelo lado esquerdo da praia, adentrando pelo rio Nema às 17h20. Puxamos os caiaques rio acima e encostamo-os na areia. Ficamos por alguns minutos ali, descansando e observando o movimento dos barcos que iniciavam a volta dos turistas para a Vila ou São Sebastião. Concordamos que eu iria até a casa das minhas tias Inês e Silvana procurá-las, enquanto o Capitão ficaria olhando as nossas coisas. No caminho encontrei alguns amigos de São Sebá, alguns passeando, outros trabalhando lá durante a temporada em restaurantes e pousadas... Encontrei até a Débora, uma colega que fez faculdade comigo, em Rio Claro! Após pedir algumas informações sobre a casa das minhas tias (que são mais conhecidas no Bonete do que até mesmo alguns boneteiros), lá cheguei, mas não tinha ninguém. Voltei à vila, pra procurar e, sem ter sucesso, voltei pra casa, e, agora sim, lá estavam elas! Me receberam com abraços e frases do tipo "vocês são malucos". Levei a tia Inês até o meu pai, e ela conseguiu arranjar um local pra deixarmos os caiaques e um carrinho de mão pra levarmos nossas coisas até a casa, tudo com os nativos - inclusive uma amiga dela também chamada Débora, muito simpática.

Nos aproximando da praia 

O canto esquerdo, do rio Nema 

Atracados na margem do rio Nema 

Rio Nema 

A praia do Bonete 

Bonete 

A recepção da tia Silvana

Minha tia disse que tinha recebido notícias nossas por alguns boneteiros que nos viram alguns dias atrás, e que no dia anterior a Néia tinha ligado pro único orelhão do Bonete pra saber se já havíamos chegado. Por isso, muita gente chegava e perguntava "vocês que estão vindo de caiaque, né, o irmão de Inês?". Engraçado.
Depois de chegar e deixar as coisas na casa, propus ao meu pai (e às minhas tias, claro), que ficássemos no dia seguinte no Bonete, e, assim, descansaríamos um pouco da sequencia de remadas, ainda mais contando que a próxima - e última - perna seria a mais comprida de todas. Após ponderar, meu pai achou uma boa ideia, e, assim, teríamos um dia pra descansar e curtir o Bonete. Pra comemorar, fomos todos tomar um banho na cachoeira que existe do lado da casa delas; vida mais ou menos...

Pocinho 

Legal ter uma dessas no quintal de casa, né? 


Banho de cachoeira!

À noite fomos comer uma pizza de taioba e, depois, tomar uma cerveja no bar do canto bravo, cujo nome me escapa no momento. À noite, armei minha barraca na varanda, pra fugir do calor e dos pernilongos, mas, mal peguei no sono, uma ventania brava de noroeste conseguiu quebrar (!) uma das varetas da barraca e, assim, tive que correr pra dentro de casa. Foi uma bela noite de sono, em um colchonete, luxo inimaginável há alguns dias...
Depois de dois dias de poucas horas de remada, hoje havíamos remado durante mais de oito horas, e por uma distância de 29,3 km - velocidade média de 3,8 km/h. Enfrentamos o pior trecho da viagem, e não foi na Ponta do Boi, e sim no Saco do Diogo, remando 3,2 km contra o vento, e já cansados pelas remadas no dia. Acumulamos, até o momento, 78,65 km remados.

Adiante!